(nó)s

Marcela.
2 min readFeb 22, 2023

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Minissérie “Capitu”

você tentou se convencer de que o amor poderia estar na esquina de casa, te esperando. caminhou por aquelas ruas tantas e tantas vezes, à procura da figura que significaria tudo pra você. como será que ela se pareceria? será que teria a mesma fisionomia de um amor antigo? ou seria nova, diferente, aguçante?

será que teria os olhos cor-de-terra e viveria flutuando por aí, como um passarinho recém-liberto da gaiola?

você revirou as praças, bares, ruas, corredores, sempre em busca dela. aquela. a mulher que te faria voltar a pensar em todas as bobagens de amor que haviam sido deixadas de lado, escondidas dentro de uma caixa. mas você não a encontrou.

aí, de repente, quando menos se espera, ela chega. não parece em nada com um antigo amor, muito pelo contrário: tem cheiro de novidade, gosto de incerto. você se assusta, recua, tem medo.

o amor nem sempre será fácil, quiçá tranquilo, penso eu. às vezes é tempestade. eu sei porque já vivi isso.

num dia você ama; noutro, você perde.

e é esse medo de perder que faz a gente evitar o sentir.

evitar o amar.

eu vi você dar uns passos pra trás, nervoso, porque o novo veio cheio de dúvidas. te vi cruzar os braços enquanto ela esperava por um abraço apertado, com receio de que aqueles braços tivessem espinhos. você não quer sentir dor de novo, nem se machucar, então decide que o melhor é apenas permanecer estático, como uma pedra, até vencer pelo cansaço.

mas eu não vou embora, não. eu fico.

te falo sobre filmes, livros, a casa que eu tanto amava, as memórias da minha infância. você baixa a guarda, respira; o novo, apesar de incerto, também é um “talvez”. e pode ser que aquilo que você tanto procura não chegue do jeito que deveria. às vezes é diferente.

o corpo vai;

pra frente, pra trás.

pro lado, pro outro.

é a valsa dos enamorados, você sussurra no meu ouvido. as mãos apertando as minhas costas, me mantendo perto.

o corpo vai cedendo

ao calor

ao desejo de estar

de ser

de pertencer.

a gente descobre um jeito nosso de dançar; um ritmo único, improvável, mas possível. de repente, o amor bate na porta. você não foge, nem eu. nós dois ficamos aqui pra saber o final da história.

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Marcela.

24. acadêmica de letras que se aventura no universo jornalístico. escritora em evolução. Instagram e twitter: @marcelazuos