intervenção

Marcela.
2 min readMay 4, 2023

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Esse texto não precisa de vírgula. Nem ponto pra marcar o fim de um parágrafo e o início de outro. Não precisa de rodeios poéticos, de frases bonitas, muito menos de metáforas sobre a vida e sobre como somos preciosos pra alguém.

Esse texto não precisa de contexto. Não existe um objetivo claro, não tenho um assunto central. Ele não é sobre mim, nem sobre você, muito menos sobre alguém aleatório que eu vi na esquina e achei interessante. Não é sobre meu pai, ou meu avô, ou um amor antigo que eu nem recordo mais o nome. Também não é sobre um amor novo, que incendeia meu peito e meu corpo.

Não é escrito a partir de um roteiro programado, de horas e horas de muito planejamento, de palavras que eu imaginei que fossem bonitas e se encaixassem nos versos de cada parágrafo longo que eu escrevesse. Não foi pensado milimetricamente pra ser tomado como verdade por ninguém. É só um texto, sem motivação específica, sem a necessidade de fazer sentido.

É um texto que foi escrito numa tarde quente, enquanto eu encarava a janela do meu quarto e observava a luz alaranjada invadir o cômodo. Meu estômago revira, meu peito acelera e meus olhos ardem pela claridade. Ainda assim, continuo paralisada diante da luminosidade. E o café esfria. A música acaba.

O cérebro vai desacelerando à medida que escrevo. Eu volto a escutar o canto dos pássaros lá fora, o miado irritante e contagiante dos meus gatos na porta. E os carros. As motos. As conversas descontraídas.

Volto a enxergar a cor dos objetos na mesa, e a sorrir com a lembrança boa de algum momento que eu quase deixei passar despercebido. A imagem do céu azul na orla da cidade me faz querer viver — ainda que pareça muito impossível enxergar beleza e vida em lugares tão comuns. E lembrar dele, dos outros, de tantos que atravessam meu peito e preenchem todos os espaços vazios do meu corpo, me faz querer continuar aqui.

Dizem que o mundo tende a ser cruel com aqueles que possuem almas sensíveis. Eu concordo, não é nada fácil. Viver é um ato de resistência diário — por mim e por todos que amo. Resisto um pouco todo dia, até que no fim do mês eu sobrevivi a mais um ano de vida.

Aguenta mais um pouco e respira

Força.

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Marcela.

24. acadêmica de letras que se aventura no universo jornalístico. escritora em evolução. Instagram e twitter: @marcelazuos