Última vez

Marcela.
2 min readJan 29, 2024

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Filme: Romance (2008)

eu me lembro da última vez que te vi, já bem depois do fim.

Última vez, Tim Bernardes.

ontem sonhei contigo

e foi bonito, apesar de trágico,

porque acordar me pareceu tão difícil

tão complicado

me despedir de você doeu bem mais do que já doía antes

às vezes fecho meus olhos

e ainda posso ver teu rosto

perfeitamente desenhado

enquanto me encara, daquele jeito que só você sabe

quando sabe que o me afeta é saber

que eu ainda quero você

do mesmo jeito

na mesma intensidade

eu ainda consigo ver o sorriso

os teus olhos se fechando

ainda sinto o teu cheiro

as tuas mãos me tocando

tateando cada parte do meu corpo

e quando você vai, uma parte minha vai junto

me reparto e viajo contigo

na esperança de que a gente se encontre por aí de novo

nessas esquinas perdidas

torcendo pra que o acaso nos una e te faça perceber

que eu ainda quero você

do mesmo jeito

na mesma intensidade

a gente se abraça e ri das coincidências da vida

das nossas próprias falhas

tão claras

da maneira como o destino brinca com as pessoas

e tentamos, em vão, encontrar meios de

sobreviver

ao caos que é não poder estar

nem pertencer

[nesse jogo da vida eu sou aquela que fica]

você me olha daquele jeito

de quem já sabe como isso vai acabar

eu retribuo o olhar porque

eu sei, você sabe

todo mundo sabe como isso vai acabar

nós dois ali, juntos, existindo

se amando

no mesmo espaço, na mesma cama

de novo

como antes

olhando pro teto e tentando entender porque tudo precisa ser do jeito que tem que ser

mesmo que a gente queira muito burlar essa regra, buscar um atalho

cortar essa estrada que nos afasta um do outro

que te leva pra longe

que me prende aqui

tua mão toca a minha

de bobeira

enquanto você deposita todos os beijos do mundo no meu rosto

eu peço, por favor, que isso não acabe

não quero esquecer

eu guardo pra mim todo e qualquer pensamento

que possa de alguma forma te fazer ir embora

porque eu quero que você fique comigo

só mais um dia

só enquanto ainda tempos tempo

[pra eu poder olhar pra trás e ter a certeza de que eu tentei de tudo]

você abre a porta

enquanto a minha permaneceu escancarada

desde a última vez

dou um sorriso — não quero que você saiba

finjo costume descendo a escada

faço graça, você ri

o silêncio se instala enquanto a tua mão toca a minha e a segura com força

implorando

não vai embora, não

não quero esquecer

o quanto eu ainda quero você.

Texto publicado no tumblr, 04 de novembro de 2022.

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Marcela.

24. acadêmica de letras que se aventura no universo jornalístico. escritora em evolução. Instagram e twitter: @marcelazuos